Por Luis Maldonalle
De um lado, a nova geração, provavelmente incitada pelos justiceiros sociais, achincalham ícones dos quadrinhos levados a grande tela com seus diplomas de sabichões de facebook. A história deve ser rasa. Profundidade são para buracos, algum diretor executivo desapegado às velhas histórias ou biografia de algum importante cânone, certamente dirá.
No entanto, mesmo que a enfurecida turba sem razão não compre um ingresso, muito menos algum título mensal, abusam da crítica unilateral tratando a arte como mais um de seus braços ideológicos.
É claro que se dermos as costas pro viés político dos quadrinhos, seria o mesmo que negar décadas de arcos, mini-séries e sagas, às vezes tão polpudas aos cofres da indústria, retratando cada pormenor de sua década, que não faria sentido. Veja bem, o patriótico Capitão América iniciou sua jornada com um Punch de direita bem no meio da fuça do chanceler alemão mais famoso da Bavária.
De Homem-Aranha em um episódio de drogas ao mote da guerra fria, a política estampou centenas de passagens importantes na arte sequencial nos últimos cinquenta anos. Até Nixon figurou como grande vilão no salão oval, depois de Watergate.
Sinceramente, acho de muita importância o viés político assim como qualquer atemporalidade ou cunho artístico que venha a ser sugerido (nunca imposto). Desde que seja planejado.
Planejamento. Hummmm…Tá aí um dos grandes tabus da Marvel.
Faça qualquer coisa, as pessoas não se importam com histórias, disse o criador da timely comics (atual Marvel) Martim Goodman.
Vendo as recentes publicações mensais e as apostas da empresa, fica claro que Martim não era o único a pensar assim.
O politicamente correto que tem eliminado cada vez mais os vilões de primeira linha da editora, parece ter chegado pra ficar.
Apavorados com as crítica da mídia impressa americana, o que faria as ações da empresa despencar, roteiristas ocasionais vomitam uma enxurrada de novidades desarticuladas e sem vigor, destruindo cânones e personagens icônicos, mesmo que o clamor, venha de quem não consome Hqs.
O brutal êxodo de leitores fiéis para a rival DC mostra claramente em tom profético e porquê não forense, o famoso tiro no pé.
Aquaman é um exemplo. De chacota como super herói, ao seu magistral renascimento conduzido por Geoff Johns, crava seu cetro ironicamente à frente dos X- men.
O quadrinho não deveria ser encarado por quem não o lê, como objeto representativo ou objetificador. Claro, ele deve refletir as mudanças e ser um espelho do seu tempo. Os debates devem acontecer. Acirrados ou não, respeitando argumentos e fatos.
As vendas nunca foram tão baixas. Os grandes personagens da editora estão cada vez mais descaracterizados. Quarteto fantástico, que abriu o caminho pra que tudo mais se estabelecesse durante todas essas décadas, foi cancelado. Não porque não tenha mais nada a dizer. E sim, pelo imbróglio dos direitos com a Fox. O mesmo com X-men que por muito, junto com o Cabeça de teia, carregou a empresa nos ombros.
Mas isso não importa. Inverta-se os valores. Faça tudo ao contrário do que os personagens sempre representaram. Obedeça ao politicamente correto, mesmo a contra gosto. Faça da vilania uma piada de mau gosto. Afinal, o que importa é um centavo a mais na capa. Como disse Martin Goodman: as pessoas não se importam com histórias.